no nosso terceiro dia, após a reza, ,migramos para baixo da mangueira, onde coordenei o aquecimento corporal. trabalhamos um pouco também, com a percepção do espaço e tempo coletivos. depois disso, fizemos uma dinâmica em duplas, onde criamos pequenas partituras corporais. após cada dupla mostrar a sua célula criativa, ronaldo organizou o grupo e orientou a apresentação da provocação lançada no dia anterior. espalhados no espaço, um a um anunciaria a sua proibição. em resposta, o grupo se manifestaria corporalmente com um gesto/movimento surgido na dinâmica anterior e, logo em seguida, a pessoa continuaria sua fala, dando a justificativa do ato proibido. todos participaram do exercício e nos divertimos muito, inclusive percebendo sinais de nosso possível roteiro.
voltamos à sala de aula. apresentamos uma música, sugerida por ronaldo e fábio, chamada JESUS, gravada por Pedro Luís e Ney Matogrosso. empolgados, cantamos e conversamos a respeito do conteúdo da composição. lançamos uma nova provocação pra próxima semana: divididos em grupo, eles iriam inventar um novo arranjo, uma nova melodia, com liberdade de interferir, inclusive, em alguns versos da letra original.
ao final do dia, tivemos um papo bem importante com todos. falamos da nova etapa - a construção do trabalho final: a nossa aula - apresentação. esclarecemos as pequenas mudanças necessárias na oficina para focarmos nisso e ressaltamos a importância do comprometimento com esse novo momento. ananias, coordenador do ponto de cultura que estava presente durante esse dias, acompanhando nossas atividades, ratificou o valor dessa etapa. o grupo se manifestou com disposição e alegria para essa nova fase. encerramos a semana com a certeza de novos desafios nesse próximo momento. ronaldo e fábio, juntamente ao grupo, no corpo a corpo. eu, do lado de cá, atuando junto, pensando artisticamente, coordenando e trabalhando na produção e na finalização do projeto e dando o pontapé inicial do nosso doc/ making off.
oxalá nos guie! seguimos na fé, com a força dos orixás que têm nos conduzido com todo amor e proteção, afirmando em nós, o desejo de continuarmos na certeza de que tudo é como tem que ser, passo a passo, no tempo da natureza. salve, salve!
ana paula bouzas
nosso segundo dia inciou-se, como sempre, com nossa roda de oração - graças! (é sempre um aprendizado escutar as palavras dos moradores desse lugar. tanta luz e sabedoria na simplicidade e economia do que é dito - conexão direta com a essência da vida). em seguida, do lado de fora, ronaldo iniciou a prática com uma dinâmica corporal onde trabalhamos a dissociação dos movimentos, a partir do trabalho isolado das partes do corpo. pura alegria. corpos se descobrindo vivos, estranhos e divertidos movendo-se livremente pelo espaço. logo após, fábio conduziu exercícios de voz , apresentando novas ferramentas ao grupo. extendemos essa atividade, inspirados na desenvoltura de todos: exploramos a idéia de intenção e projeção (voz e corpo) na atuação. fechamos a bateria de exercícios com um jogo lúdico onde o grupo criava máscaras, corpos e vozes diferentes, personagens estranhos, e compartilhavam suas criações com todo o grupo, experimentando também, as construções propostas pelos outros. partimos depois pra dentro da sala, onde recebemos os novos "estranhos estrangeiros". uma riqueza deliciosa de tipos e discursos.
finalizamos o dia, apresentando a seguinte provocação: sorteamos várias espécies de proibições. ex: é proibido subir em árvore/ é proibido reunir em círculo/ é proibido olhar no espelho, etc. para cada uma dessas proibições que criamos, cada um pensaria na sua justificativa para aquela que tivesse sorteado. pedimos segredo absoluto. fazia parte dessa tarefa para o dia seguinte.
encerramos mais uma vez com a gratidão pelo desenvolvimento iluminado do nosso trabalho.
ana paula bouzas
cá estou, de volta ao kaonge, depois de algumas semanas trabalhando à distância. muita saudade! a emoção é sempre arrebatadora. a sensação de nunca ter saído e ao mesmo tempo o olhar curioso descobre as pequenas grandes mudanças.
o ritual do início dos trabalhos se dá e, nesse momento, quando estamos todos de mãos dadas e faz-se o silêncio, a força da terra invade as plantas dos pés e como um rio caudaloso e quente, percorre o corpo todo, escorre pelas minhas mãos ao encontro das vizinhas, esquenta o peito, alcança o rosto. por fim, abre o meu sorriso, molhando os olhos fechados que despertam confortados por aquela benção e, ávidos, conferem a grandeza desse encontro. agô!
depois da nossa oração, neste primeiro dia de trabalho da semana, partimos para o espaço ao ar livre e fizemos um aquecimento corporal, liderado por fábio - preparativo para o treinamento com a perna de pau. em seguida, dedicamos um tempo a este treino, quando novos participantes da oficina puderam vivenciar essa experiência. enquanto isso, reunimo-nos com outra parte do grupo - os que já haviam utilizado as pernas e os que aguardavam a sua vez - dentro da sala de aula, a fim de realizarmos um bate papo. estamos trabalhando no registro desse processo, tendo em vista a realização de um doc/ making off. começamos neste dia, a colher alguns depoimentos do grupo a respeito do projeto. lancei a seguinte pergunta: "como soube da oficina de teatro e o que sentiu ao saber que esse trabalho seria desenvolvido na comunidade durante três meses?". registramos as respostas e comentários surgidos. novas questões apareceram. após a conversa, voltamos a reunir o grupo todo e apresentamos as tarefas e provocações pros próximos dias: para o dia seguinte, assistiríamos os outros "estranhos estrangeiros" que estavam no aguardo da "fila de entrada". finalizamos o dia em roda, agradecendo a oportunidade de novamente estarmos juntos.
ana paula bouzas